Relevância e Potencial de Inovação

A literatura emergente reconhece a importância de cooperar para promover a sustentabilidade no agronegócio, e percebe que integrar os diferentes atores em prol da sustentabilidade é possível por meio de um ecossistema de inovação (Carayannis et al., 2021). Com esse foco foi desenvolvida o Quintuple-Helix Model (QHIM), que considera a sinergia entre universidade, indústria, governo, sociedade civil, ambiente natural para enfrentar os desafios da sustentabilidade (Carayannis e Campbell, 2012; Carayannis et al., 2021). Este modelo tem foco na evolução socioecológica das sociedades e economias no século XXI (Carayannis e Campbell, 2012; Carayannis et al., 2021; Roselund et al., 2017; Galvão et al., 2019; Sumarto et al., 2020), e visa auxiliar na formulação de políticas, na implementação de ações de preservação de recursos naturais renováveis e não renováveis, no desenvolvimentos de novas tecnologias verdes (Ortas et al., 2019; Paula et al., 2021) e na criação de oportunidades para a economia do conhecimento (Carayannis et al., 2021). Entretanto, os estudos sobre o QHIM só investigaram questões específicas (Galvão et al., 2019), sem explorar plenamente suas possibilidades e limitações (Baccarne et al., 2016), sendo necessárias mais evidências empíricas sobre os impactos globais das relações entre stakeholders (Galvão et al., 2019).

Na perspectiva de gestão (área de administração e sub-área de contabilidade), se reconhece as complexidades e a importância do sistema agroalimentar (Chiles et al., 2018; Biró e Csete, 2021; Zuluaga et al., 2021) e que essa complexidade e relevância têm elevado a necessidade de explorar como a gestão ambiental pode direcionar o agronegócio para a sustentabilidade (Burrit, 2004; Baccarne et al., 2016; Miranda et al., 2021). Isto porque os diversos conflitos e disputas entre o agronegócio e diferentes grupos sociais ou stakeholders estão associados a questões relacionadas com as práticas de controle (Henri and Journeault, 2018), contabilidade de gestão ambiental (Burrit, Hahn and Schaltegger, 2002) e evidenciação ambiental (Deegan, 2002). O que se percebe no contexto atual é que as práticas de gestão ambiental possibilitam incorporar os conceitos de sustentabilidade nos processos organizacionais por meio de inovação (Rosa et al., 2019; Radu and Francoeur, 2017; Ferreira, Moulang, Hendro, 2010), pois a adoção de inovação orientada para a sustentabilidade (SOIS) possibilita o enfrentamento dos desafios que ocorrem no agronegócio (Miranda et al., 2021). Esta inovação ocorre por meio da melhoria de processos (Rosa et al., 2019; Rosa et al., 2021), tais como: uso de energia renovável para redução da poluição, difusão da responsabilidade dos consumidores para redução de desperdício, uso de irrigação na agricultura para proteção hídrica, proteção do habitat natural para evitar risco legal, entre outros (Biró and Csete, 2021). Portanto, a inovação torna-se um fator determinante para a sustentabilidade (Colombo et al., 2019; Kanda et al., 2019), pois possibilita aperfeiçoar produtos, serviços e processos internos das empresas (Ostraszewska e Tylec, 2019), permitindo resolver desafios atuais e complexos relacionados à produção de alimentos, ao consumo de água e ao uso de energia (Albrecht et al., 2018) tais como: desperdício de alimentos, aquecimento global, consumo elevado de energia, emissões de carbono, áreas degradadas, etc (Mirabella et al., 2014; Simboli et al., 2015; Fernández-Mena et al., 2016; Pagotto e Halog, 2016; Jesus et al., 2019; Kendall e Spang, 2020; Rosa et al., 2021). Assim, com este projeto de pesquisa se espera contribuir com a fronteira do conhecimento em contabilidade e gestão, ao trazer luz sobre a sinergia entre eixos principais da atividade: ecossistema de inovação, práticas de gestão e inovação ambiental orientada para a sustentabilidade na cadeia produtiva.

O agronegócio está inserido em um ecossistema com diversos atores que interagem e estão em constante sinergia, tais como universidades, governo, sociedade, empresas, e ambiente natural (Carayannis e Campbell, 2012; Carayannis et al., 2021). Além disso, está baseado no uso de elementos que interagem e competem ao mesmo tempo: água, energia e alimentos (Sarkodie e Owusu, 2020). Ampliar a compreensão sobre a interdependência dos atores (ecossistema de inovação) e elementos básicos para o agronegócio (água, energia e alimentos) é fundamental para o processo decisório sobre ações para uma economia de baixo carbono e menos desigual, contribuindo assim para o cumprimento dos ODS (Zhang et al., 2018; Carayannis e Campbell, 2012; Carayannis et al., 2021). Enquanto a metodologia Quintuple-Helix Model (QHIM) busca compreender a sinergia dos stakeholders, ou seja, o ecossistema de inovação (Carayannis e Campbell, 2012; Carayannis et al., 2021), a metodologia NEXUS-Few visa compreender a dinâmica entre água, energia e alimento, para maximizar sinergias, minimizar compensação, melhorar a eficiência no uso de recursos e internalização de impactos ambientais (Albrecht et al., 2018). No entanto, o NEXUS-Few requer uma visão mais sistêmica sobre a cadeia produtiva alimentar (Liu et al., 2018), baseada em inovação e integração das partes interessadas (Kibler et al., 2018). Portanto, a compreensão das influências do ecossistema de inovação (Carayannis e Campbell, 2012; Carayannis et al., 2021), pode contribuir com a problemática ambiental em torno do agronegócio.

O ecossistema de inovação e a inovação orientada para a sustentabilidade no ramo de alimentos levam ao desempenho em água, energia e alimentos de forma sinérgica (NEXUS-Few), favorecendo ambiente natural, os aspectos sociais e econômicos relacionados direta ou indiretamente com o agronegócio. Isso porque de um lado, permite a sinergia entre os atores envolvidos direta ou indiretamente com o agronegócio (universidades, governo, sociedade, importadores/mercado e ambiente natural) direcionando esforços desses atores com as práticas de controle ambiental na cadeia produtiva (indústria de alimentos e nas propriedades agrícolas) (Bergier et al., 2021). Por outro lado, dentro na cadeia produtiva a inovação orientada para a sustentabilidade permite melhorar a performance nos critérios da sustentabilidade das indústrias e produtores rurais (Zhuo e Ji, 2019).

Além disso, estudos recentes revelam que a difusão da inovação tem sido lenta devido à negligência em gestão, e pouco tem sido explorado sobre o papel das pessoas nesse processo, tanto em relação aos stakeholders, quanto aos colaboradores e gestores (Miranda et al., 2021). Também não há consenso que sinergia entre ecossistema de inovação e práticas de gestão ambiental é um dos drivers que pode promover a sustentabilidade da cadeia produtiva do agronegócio. O que se espera como resultado é compreender como esse driver pode contribuir para solucionar os problemas relacionados aos fatores. Isso porque a estreita coordenação da cadeia produtiva e a sinergia entre indústria e produtores rurais contribuem para a sustentabilidade do setor (Zhuo e Ji, 2019).

Portanto, a proposta de estudar a sinergia entre ecossistemas de inovação, práticas de gestão ambiental e inovação orientada para a sustentabilidade se justifica em países emergentes, como o Brasil, pois os mesmos são importantes produtores rurais e representam players nos mercados globais do agronegócio, contudo, barreiras para acessar mercados sustentáveis mais valiosos como, dos países europeus, emergem da falta de sinergia entre mercado, indústria e produtores rurais, e uso incipiente de tecnologia digital (Bergier et al., 2021).

Entre os impactos tecnológicos e de inovação previstos, podem-se destacar os seguintes:

  • Promover a transferência de conhecimentos e de novas tecnologias em 3 aspectos: ecossistema de inovação, contabilidade de gestão ambiental e inovação ambiental, para a rede de pesquisadores do projeto, para as IES e para a Embrapa e para a comunidade cientifica nacional e internacional com estudos científicos que avançam a fronteira do conhecimento científico e promovem aplicações práticas. Para a empresa “SSA São Salvador Alimentos S/A”, empresa que atua em todos os elos da cadeia produtiva, com o mapeamento do ecossistema de inovação, e com o desenvolvimento de metodologias de contabilidade de gestão (controles e evidenciação). Para a cadeia produtiva diretamente atingida pelo projeto por meio das publicações técnicas feitas sobre os resultados das pesquisas, e para a sociedade por meio dos diferentes produtos entregues, tais como: formação de doutores, mestres, especialistas na temática, publicações científicas e técnicas, metodologias de gestão;
  • Melhorar os recursos educativos e de pesquisa com a capacitação dos professores e pesquisadores, assistentes técnicos, extensionistas rurais o que beneficiará as empresas, produtores rurais e a própria sociedade;
  • Apoiar políticas públicas para apoiar a sustentabilidade ambiental de cadeias produtivas, isso porque o projeto prevê como resultados análises e diagnósticos sobre a cadeia produtiva, e vai utilizar-se de um caso prática para testar as teorias e metodologias desenvolvidas e, assim, por meio da criação de um Toolkit Swot que auxiliará os produtores identificarem ou mapear os potenciais bloqueadores da inovação, visando permitir a produtores na cadeia saber como melhorar seu desempenho sustentável, direcionando-os para os ODS.

Entre os impactos científicos esperados pode-se destacar:

  • Aumentar o impacto da pesquisa realizada no grupo de pesquisa, apoiar outros pesquisadores a posicionar-se nos rankings nacionais e internacionais, além de favorecer a mobilidade de pesquisadores;
  • Aumentar o conhecimento sobre a influência do ecossistema de inovação, e contabilidade de gestão ambiental e inovação orientada para a sustentabilidade em cadeias produtivas de carne;
  • Consolidar uma rede internacional de estudo no tema, com participação de pesquisadores de diferentes países como: Brasil, Chile, Espanha e Itália.